domingo, 2 de janeiro de 2011

Verborreia

Devo ser a pior cliente que um café pode ter. 30 min depois de cá estar, peço um café mais um copo e outro copo de água e desisto de pedir uma sopa por custar 2,50 euros...2,50 euros!? Mas por amor de deus...polvilharam-na com ouro? Ou cuspiram nela e acham que o seu adn lhe acrescenta valor? O meu não custaria dinheiro. Cuspia-lhes na sopa de graça. Aliás...acho que pagava para alguém comer o meu cuspo misturado na sua sopa. 5 euros para um pouco de chichi à mistura.
Sou a única pessoa sentada sozinha no café, após breve análise. Parece que o ser humano precisa de um ou mais apêndices à sua volta para se sentir completo. Nem que isto implique arrastar a preciosa criancinha para a zona de fumadores do café. Porque é que, pura e simplesmente, não lhes apontam uma arma à cabeça, (para todos os efeitos, custosamente parida)? Eu posso matar-me lentamente, segundo por segundo, chupando um cigarro, com nicotina e tudo o mais que com esta vem. Mas os pobres fetos, ainda não decidiram trocar trocar 10 anos da sua vida pelos múltiplos e temporários momento de prazer que os cigarros dão. Mas hei... se os pariram, ou lhes deram parte do seu adn e acham justo terem-los arrastado para o nosso maravilhoso mundo, bem, que decidam cortar-lhes o bilhete da viajem para metade. Não acho mesmo isto. Mas pareceu-me que ficaria bonito escrito. Não bonito, mas...qualquer coisa.
Se calhar podia publicar este tipo de coisa num blog, (haha). Podia tornar-me a rainha dos emos da internet. Jessy Slaughter style. Ou então, quando tiver uma licenciatura, escrevo este tipo de coisa e sou considerada uma niilista, existencialista e mais nomes bonitos desses. E podia tornar-me líder de um culto "underground" de pessoas que veneram a visão que somos o lixo do mundo e olham para a nossa existência como uma trama de atrocidades...educada e licenciadamente e não emo kid style.
Wow, eu acho mesmo isto? Não, não me parece. Mas quando começamos a escrever, a falar ou a pensar, muitos somos dados a verborreia. Isso soa como gonorreia...diarreia...all out, depois de duas, sendo a segunda a origem óbvia da palavra. Mas que imaginativa que estou. Fascinante. Se calhar faço deste discurso uma improvisação no teatro. Se alguém perguntar, é tudo uma paródia. De facto, é o que é. Hum...tornei-me naturalmente sarcástica e desconstruo de tudo o que penso. Isto é um feito. Se estamos sempre a gozar, se tudo o que dizemos e fazemos é uma enorme piada, nunca caímos no ridículo. As coisas anulam-se directamente. Mais (mais) menos é igual a menos. (Isto é tudo o que me resta da matemática). Mais (mais) menos igual a menos. É alguma coisa.
O meu café já está frio e o meu jeito para fumar com a mão esquerda é diminuto. (Porque é que estou a narrar estes factos como se fossem de extremo interesse?). Café mais um cigarro, mais um copo com água, mais verborreia igual a facinating shit. Oscar material. Nobel prize material. Pure gold.
Quando os meus olhos encontram os de alguém no café, baixo o olhar. Efeito mútuo. Porquê? Porque é que posso olhar fixamente uma cadeira e não uma pessoa? Em auto-explicação, uma cadeira não interpreta o meu olhar como:
1- Uma ameaça
2- Um "Eu acho-te fascinante/atraente..."
3- "Estou a arranjar coragem para ir aí falar contigo..." (consequência do nº2)
4- Falta de educação: "Sara, não olhes fixamente para o senhor/a, é falta de educação
Consequência do crescimento numa sociedade que complicou demasiado a interacção social. Vendo bem, se não fosse isto, não teríamos muito mais com que queimar possíveis 100 anos de existência. Sem ser cigarros, claro está.
Não conseguimos viver por viver. Gostamos de encher a nossa cabeça com informação inútil que é um fim em si só. Criar mais informação inútil para outras pessoas encherem as suas cabeças. Informação que apenas é aplicável no mundo que criámos. Tentamos explicar a nossa própria existência como se precisássemos de uma desculpa para viver. Tentamos cumprir os pontos que compreendem a vida de milhões. Após uns poucos anos de, (vimos a saber mais tarde), inconsciência e liberdade, vem o infantário, (ponto que, felizmente? saltei), primária, ciclo, secundário, licenciatura, mestrado, (opcional), doutoramento, (opcional), mundo do trabalho, casa, casamento, promoções, filhotes aos saltos. Estes por sua vez vão seguir o mesmo percurso; netos, reforma morte. Tudo num pacote, como um menu da MacDonalds. Uma Mcvida. Fast-food lifstyle. Fast-living. Tudo igual, casas parecidas...
Enquando isto, morrem criancinhas em África todos os dias. Solução: tentamos atenuar por não ser uma delas, dando algum dinheiro para a caridade, atenuando pelos pecados de outros. Compramos o fim da fome de alguém como quem compra um par de sapatos ou uma mala. Promoção: inclua algum serviço comunitário na sua vida! Sorria a estranhos na rua! Espalhe felicidade para ser bem recordado quando estiver morto e a ser comido por larvas, no nada e sem consciência, quando, efectivamente, for nada...Nada...nada...nada...nada...Alguém estará feliz! Sem você saber, poder querer saber....Wow! Isto vai mesmo importar ao seu esqueleto em decomposição. Quando as suas férias da morte acabarem, uma criancinha em África come o pequeno almoço, como uma sourvenier da sua estadia na Terra!

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